O Empreendedorismo Tecnológico e a Reindustrialização do País

A 1ª Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (CECTI), entre as várias questões trabalhadas, dedicou um painel ao tema “Empreendedorismo Tecnológico e a Reindustrialização do País” com o objetivo de buscar alternativas para a necessidade de ampliar o aproveitamento das soluções tecnológicas patenteadas pelo mercado, indústria e, de forma geral, pela sociedade. A CECTI, promovida pelo Governo da Paraíba, através da Secretaria de Estado da Ciência, Inovação, Tecnologia e Ensino Superior – Secties, aconteceu em 3 etapas nos municípios de Sousa, Campina Grande e João Pessoa, e foi uma atividade preparatória para a 5ª conferência Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação – 5ª CNCTI, que ocorrerá em Brasília no próximo mês de junho.

O painel “Empreendedorismo Tecnológico e a Reindustrialização do País” foi coordenado pela professora Francilene Procópio, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e coordenadora do Programa Parque Tecnológico Horizontes de Inovação – PTHI.

O painel contou também com a participação de Josemir Maia (Professor da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB); Kelly Cristiane Gomes da Silva (Professora da Universidade Federal da Paraíba – UFPB) e Valdecir Moreno (Professor do Instituto Federal da Paraíba – IFPB). Todos trabalham diretamente com a promoção do empreendedorismo e da inovação em suas instituições.

A Coordenadora, Francilene Garcia iniciou o diálogo propondo 3 subtemas para referenciar as discussões. Em primeiro lugar a transferência de tecnologia, as oportunidades e desafios da propriedade intelectual. Ela lembrou os números positivos em relação aos depósitos de patentes e as dificuldades enfrentadas pelas instituições de ensino e por todo o ecossistema em transformar este potencial em ganhos econômicos e sociais efetivos.

A segunda provocação, a formação da cultura empreendedora, parte da necessidade de adequação das relações nos diversos ambientes educacionais para que estes possam qualificar a educação empreendedora em função das demandas reais. Por fim, a política de inovação praticada atualmente. Considerando a geração de conhecimentos das instituições de ensino, a professora Francilene propôs uma reflexão sobre a necessidade de aperfeiçoar as interfaces de comunicação com a sociedade de forma a facilitar e tornar mais fértil as relações entre a academia e o conjunto da sociedade.

Os relatos de experiências, pelos professores Josemir e Valdecir e pela professora Kelly, contemplaram as questões centrais propostas e reconheceram a importância destes desafios, inclusive informando sobre alternativas em curso e aspirações que se mostram positivas na solução destas demandas. A professora Kelly (UFPB) destacou a conquista do status de “Agência UFPB de Inovação Tecnológica”, para o NIT da UFPB, por ela coordenado, como um fato importante, pois, segundo ela, “isto nos possibilitou uma outra realidade, pois com a Agência nós atuamos na proteção das tecnologias que são desenvolvidas no âmbito da instituição, mas temos também a missão de transferir essa tecnologia produzida e isso é um enorme diferencial. Além disso atuamos também no fomento às empresas de base tecnológica, as startups”. A professora considera esta mudança de perspectiva fundamental não só como iniciativa  de adequação da instituição à realidade, mas também como uma mudança de postura que valoriza a destinação dos recursos criados e permite que a inovação contemple às necessidades reais da comunidade e não apenas reforce os currículos de professores e alunos.

Para o professor Valdecir, membro da Diretoria da Agência de Inovação do IFPB, a mudança recente do status do NIT do IFPB para Agência, como na experiência relatada pela professora Kelly, vem se mostrando muito positiva e também já se reflete em conquistas. Segundo o professor, um gargalo importante na relação com os setores demandantes de tecnologia e inovação é a falta de uma maior compreensão dos limites e possibilidades das instituições de ensino, através dos seus NITs. Para Valdecir, a Paraíba possui um grande potencial de produção de novas tecnologias em todo o seu território e muitas coisas já estão acontecendo. “São grandes projetos no litoral e interior, inclusive com parceiros internacionais, como o BINGO e as energias renováveis, segmento onde o IFPB está, inclusive, fechando uma parceria com a Alemanha. Nós adotamos uma política que já facilita as parcerias, mas precisamos ampliar estas parcerias com as instituições para aproveitar todo o potencial” afirma.

O professor Josemir explicou que a Inovatec, como foi denominado o Nit da UEPB, que ele coordena, enfrenta os problemas abordados no Painel com uma estratégia que, para conviver com a crescente demanda, primeiro dividiu a instituição em 3 setores: o de propriedade intelectual, o de transferência de tecnologia e o de empreendedorismo. A partir daí a Inovatec passou a investir em sistematização de processos nas 3 áreas, através da construção de ferramentas informacionais que facilitam as operações de transferência de tecnologias, de proteção de propriedade e de empreendedorismo, inclusive buscando contemplar a melhoria das relações com a comunidade externa e interna da UEPB. O professor informou a descontinuidade momentânea -por falta de recursos humanos- do trabalho do Observatório Tecnológico. O equipamento é fonte fundamental para obtenção e articulação de dados no âmbito da UEPB, pois, entre outras funções, orienta as ações a partir do controle das potencialidades, do desempenho e dos resultados nas diversas áreas com as quais a Inovatec trabalha.  A necessidade de pessoal especializado também foi apontada por Valdemir como uma questão crucial, pois as estruturas de gestão, de formação e operação, no âmbito do ecossistema de inovação, pelo dinamismo que apresenta, carecem de muita especialização e diversidade. “uma das demandas principais da UEPB hoje é a atualização de cargos. Nós não temos, por  exemplo, captadores de recursos, gerentes de incubadora, gerentes de transferência de tecnologia”, comentou o professor Josemir, no contexto de problemas que dificultam as relações entre os Nits e o seu público.

A Professora Francilene Garcia encerrou o diálogo destacando a importância da UFPB, IFPB e UEPB no ecossistema paraibano de inovação e pontuando as questões destacadas no conjunto das falas. Em relação à necessidade de ampliar e qualificar o fluxo de conhecimentos entre os entes geradores e as demandas do mercado e indústria ela defendeu o aprimoramento dos mecanismos já existentes e, inclusive, o retorno do Observatório Tecnológico da UEPB, mas, pela importância deste instrumento como fonte crucial de informações, numa versão regional que possa vir atender a todos os Nits paraibanos e lhes facilitar a ampliação e a qualificação dos canais de comunicação com o conjunto da sociedade. Em relação às dificuldades com pessoal especializado para ocupar as novas funções demandadas pelos ecossistemas de inovação, Francilene lembrou que este será um dos importantes pontos da pauta da 5ªCNCTI pela urgência da resolução desta necessidade nos vários níveis de interface entre a sociedade e os Nits.

A professora concluiu o Painel enfatizando a importância do trabalho conjunto entre todas as instituições com atuação no Ecossistema de inovação e também enfatizando a importância de diálogos como a CECTI, promovido pela Secties, para identificar respostas positivas e os melhores caminhos para o ecossistema de inovação, “Nós estamos buscando aqui uma solução em rede através da colaboração multi-institucional com o fomento de todas as entidades. O Laboratório Tecnológico, com uma abrangência macro, poderá, entre outros instrumentos vir a ser um eficiente mecanismo de informação e comunicação para o conjunto destas instituições”, completou a Professora Francilene Garcia.

Gilson Renato

Foto: Mateus Medeiros

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